AS RUÍNAS ROMANAS DE TRÓIA
Conjunto Fabril de Conserva de Peixe
A estação arqueológica de Tróia constitui um dos mais interessantes conjuntos fabris de conserva de peixe do Império Romano. Construído nos inícios do séc. I d.C., manteve-se em plena actividade até, praticamente, ao séc. IV d.C., momento a partir do qual entra num período de irreversível decadência. Estendendo-se outrora por uma faixa de quase 2 Km, este complexo conserveiro mantém ainda uma apreciável densidade de construções, testemunho da intensa actividade industrial e comercial que nele se desenrolava.
A origem do nome "Tróia" ainda hoje permanece um mistério. A primeira referência a este topónimo, de que há notícia, data do séc. XVI, e poderá dever-se, tão-somente, à circunstância dos espíritos cultos da época se sentirem tentados a assemelhar estas ruínas à Tróia homérica, aliás, de latitude, cronologia e natureza bem diversas.
INDÚSTRIA E COMÉRCIO
Tróia não foi um ponto isolado no Ocidente europeu. Na verdade, este centro conserveiro fazia parte de uma complexa cadeia comercial que, centrada no Mar Mediterrâneo, o "Mare Nostrum" dos Romanos, garantiu o fornecimento de produtos do mar a todos os grandes núcleos populacionais do Império, incluindo a própria cidade de Roma. Os tanques de salga, de formato triangular e de diferentes tamanhos, agrupados em núcleos independentes separados por muros de alvenaria, destinavam-se a conter o peixe e os ariscos obtidos no rio ou trazidos do alto mar. Aí eram lavados, separados segundo as espécies, e salgados. As vísceras, devidamente seleccionadas, a que eram adicionadas ervas aromáticas de diferente natureza, sofriam um tratamento de maceração e fermentação, delas se obtendo o "garum", espécie de pasta ou molho que servia para condimentar os alimentos. Acondicionado em ânforas ou em vasilhas de menores dimensões, era exportado para diversas partes do mundo romano, onde era altamente apreciado, chegando, por vezes, a atingir preços exorbitantes.
Tróia não foi um ponto isolado no Ocidente europeu. Na verdade, este centro conserveiro fazia parte de uma complexa cadeia comercial que, centrada no Mar Mediterrâneo, o "Mare Nostrum" dos Romanos, garantiu o fornecimento de produtos do mar a todos os grandes núcleos populacionais do Império, incluindo a própria cidade de Roma. Os tanques de salga, de formato triangular e de diferentes tamanhos, agrupados em núcleos independentes separados por muros de alvenaria, destinavam-se a conter o peixe e os ariscos obtidos no rio ou trazidos do alto mar. Aí eram lavados, separados segundo as espécies, e salgados. As vísceras, devidamente seleccionadas, a que eram adicionadas ervas aromáticas de diferente natureza, sofriam um tratamento de maceração e fermentação, delas se obtendo o "garum", espécie de pasta ou molho que servia para condimentar os alimentos. Acondicionado em ânforas ou em vasilhas de menores dimensões, era exportado para diversas partes do mundo romano, onde era altamente apreciado, chegando, por vezes, a atingir preços exorbitantes.
OUTROS ASPECTOS DO COMPLEXO ARQUEOLÓGICO
Para além dos tanques de salga, revestidos de "opus signinum", de que foram, até hoje, descobertos para cima de cinquenta, é de assinalar a existência de uma área habitacional, de um balneário, de três zonas de enterramento, e de um núcleo religioso. A concorrência destes testemunhos de diferente natureza, numa zona praticamente isolada, cuja via de acesso principal seria a marítima ou fluvial, é, já por si suficientemente elucidativa da importância que este centro adquiriu na Antiguidade. Embora dependendo do exterior para a obtenção de vasilhame, de produtos agrícolas e pecuários, criou as estruturas suficientes para assegurar a presença no local de uma população activa responsável pela manutenção desta indústria durante um período de, pelo menos, quatro séculos.
Para além dos tanques de salga, revestidos de "opus signinum", de que foram, até hoje, descobertos para cima de cinquenta, é de assinalar a existência de uma área habitacional, de um balneário, de três zonas de enterramento, e de um núcleo religioso. A concorrência destes testemunhos de diferente natureza, numa zona praticamente isolada, cuja via de acesso principal seria a marítima ou fluvial, é, já por si suficientemente elucidativa da importância que este centro adquiriu na Antiguidade. Embora dependendo do exterior para a obtenção de vasilhame, de produtos agrícolas e pecuários, criou as estruturas suficientes para assegurar a presença no local de uma população activa responsável pela manutenção desta indústria durante um período de, pelo menos, quatro séculos.
Basílica Paleocristã
Dos edifícios religiosos destaca-se a basílica paleocristã. De quatro naves, com forma irregular “… nas partes conservadas das suas paredes vemos pinturas a fresco que imitam mármores na mancha dos lambris. Nas partes superiores, umas mostram-nos temas geométricos , polígonos ou círculos com aves e outras imitações ilusionistas de remates de travejamento. No apoio da cobertura havia, pelo menos, algumas arcadas transversais, de que vemos alguns arranques decorados com florões saindo de taças e um cantharus que já arremeda os jarros litúrgicos do século VII. Desde o crismon, que Marques da Costa nos deu a conhecer e entretanto destruído, aos florões e aos temas geométricos, vemos toda uma gama decorativa de inspiração paleocristã que não nos parece anterior ao século VI. Algumas sepulturas do tipo mensa, muito evoluídas, cobertas por uma placa de mármore bordejada de molduras de opus signinum, sem qualquer espólio no interior, não desdizem desta datação, bem como o facto de estarmos diante de um espaço funerário implantado dentro dos limites da cidade romana. Mais tarde esta basílica recebeu uma espécie de abside quadrangular alteada, adaptando-se ao serviço religioso de então.” (Carlos Alberto Ferreira de Almeida).“O carácter religioso do local parece ser anterior à construção da basílica. Aí foi exumado um políptico esculpido que tem sido interpretado como uma representação relacionado com o culto mitraico em que se vê os deuses sol e Mitra (…) e fragmento de um sarcófago de mármore branco…” (Carlos Tavares da Silva). O culto mitraico com origem na Pérsia, chegou ao Ocidente no decorrer do século II d.C., através das legiões romanas, implantando-se entre os grupo económicos mais abastados.
Necrópole
As práticas de enterramento em Tróia permitem acompanhar um período temporal que vai do século I d.C. ao século VI d.C. e analisar a evolução dessas práticas e atitudes mentais perante a morte.Um primeiro momento leva-nos à prática de incineração (queima dos corpos), comum a todos os povo indo-europeus e na qual se incluem os romanos e as populações indígenas da Península.Esta prática está representada pela sepultura de Galla (datada so século I d.C.), um monumento epigráfico que se encontra no Museu de Arqueologia e Etnografia do Distrito de Setúbal. Nestas sepultura as cinzas estavam acompanhadas por uma taça de bronze, um púcaro de cerâmica, dois ungentários em vidro, duas lucernas do século I d.C. e instrumentos de toilete e de lavores em osso. A partir do século II d.C. começou a impor-se lentamente a prática da inumação (deposição do corpo) como consequência da crescente influência das religiões oriundas da Pérsia do Mediterrâneo Oriental, como o culto Mitraico e o Cristianismo.Está neste caso o fragmento do sarcófago, descoberto sob a basílica paleocristã, onde está esculpida uma cena de transporte do morto em carro de bois para um espaço delimitado por uma rede e defendido por um animal feroz. Datado de finais do século II d.C. ou do século III d.C., o sarcófago, pela sua qualidade artística reflecte a adesão dos grupos sociais mais abastados à nova religião.
Próprio de um período com domínio da prática da inumação é o mausoléu. Construído numa época em que o complexo industrial já estaria em regressão e portanto com fábricas abandonadas (talvez finais do século IV d.C.), o mausoléu, de planta rectangular e paredes reforçadas por contrafortes, tem o pavimento completamente preenchido por sepulturas de inumação e nichos nas paredes onde poderiam ter sido depositadas urnas.Nas traseiras e na frente do mausoléu, encontram-se igualmente espaços funerários. Não possuem cronologias seguras para estas zonas funerárias. É possível que tivessem sido utilizados numa época em que o complexo industrial já estava em acentuado estado de abandono. No espaço das traseiras foram utilizadas como urnas, ânforas produzidas no final do império e no espaço da frente do mausoléu utilizaram-se os próprios tanques para os enterramentos.Este momento ocorreu, possivelmente, no século VI, quando o complexo industrial já não funcionava, sendo Tróia habitada por pescadores que aproveitavam aquele espaço para enterrar os seus mortos. O carácter religioso do local manteve-se até aos nosso dias através da capela de Nossa Senhora de Tróia.
As práticas de enterramento em Tróia permitem acompanhar um período temporal que vai do século I d.C. ao século VI d.C. e analisar a evolução dessas práticas e atitudes mentais perante a morte.Um primeiro momento leva-nos à prática de incineração (queima dos corpos), comum a todos os povo indo-europeus e na qual se incluem os romanos e as populações indígenas da Península.Esta prática está representada pela sepultura de Galla (datada so século I d.C.), um monumento epigráfico que se encontra no Museu de Arqueologia e Etnografia do Distrito de Setúbal. Nestas sepultura as cinzas estavam acompanhadas por uma taça de bronze, um púcaro de cerâmica, dois ungentários em vidro, duas lucernas do século I d.C. e instrumentos de toilete e de lavores em osso. A partir do século II d.C. começou a impor-se lentamente a prática da inumação (deposição do corpo) como consequência da crescente influência das religiões oriundas da Pérsia do Mediterrâneo Oriental, como o culto Mitraico e o Cristianismo.Está neste caso o fragmento do sarcófago, descoberto sob a basílica paleocristã, onde está esculpida uma cena de transporte do morto em carro de bois para um espaço delimitado por uma rede e defendido por um animal feroz. Datado de finais do século II d.C. ou do século III d.C., o sarcófago, pela sua qualidade artística reflecte a adesão dos grupos sociais mais abastados à nova religião.
Próprio de um período com domínio da prática da inumação é o mausoléu. Construído numa época em que o complexo industrial já estaria em regressão e portanto com fábricas abandonadas (talvez finais do século IV d.C.), o mausoléu, de planta rectangular e paredes reforçadas por contrafortes, tem o pavimento completamente preenchido por sepulturas de inumação e nichos nas paredes onde poderiam ter sido depositadas urnas.Nas traseiras e na frente do mausoléu, encontram-se igualmente espaços funerários. Não possuem cronologias seguras para estas zonas funerárias. É possível que tivessem sido utilizados numa época em que o complexo industrial já estava em acentuado estado de abandono. No espaço das traseiras foram utilizadas como urnas, ânforas produzidas no final do império e no espaço da frente do mausoléu utilizaram-se os próprios tanques para os enterramentos.Este momento ocorreu, possivelmente, no século VI, quando o complexo industrial já não funcionava, sendo Tróia habitada por pescadores que aproveitavam aquele espaço para enterrar os seus mortos. O carácter religioso do local manteve-se até aos nosso dias através da capela de Nossa Senhora de Tróia.
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